Economia
Bolsonaro deixou um Orçamento fraudulento e destruiu a estrutura do Estado, diz Enio Verri
O deputado petista, integrante do GT de Planejamento, Orçamento e Gestão, avalia que o ex-capitão ‘eliminou a visão de longo prazo do País’
Chegou ao fim nesta terça-feira 13 a atuação dos Grupos de Trabalho do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A equipe de transição foi dividida em mais de 30 áreas temáticas, criadas para mapear o cenário deixado pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) e fazer recomendações ao novo presidente.
Uma das principais constatações de praticamente todos os grupos envolve o rombo orçamentário a ser herdado por Lula. Na semana passada, o coordenador dos GTs, Aloizio Mercadante, já havia afirmado que o governo Bolsonaro “quebrou” o Estado.
Uma das conclusões é de que a gestão Bolsonaro utilizou, ao longo de seus quatro anos, cerca de 800 bilhões de reais em recursos extrateto. Não à toa, o GT de Planejamento, Orçamento e Gestão é um dos que despertaram mais atenção nas últimas semanas.
CartaCapital entrevistou nesta terça em seu canal no YouTube o deputado federal Enio Verri (PT-PR), integrante do grupo responsável pela área. Segundo ele, a transição conseguiu mensurar parte considerável do “rombo” registrado ao fim do governo Bolsonaro.
Segundo Verri, a atribuição do GT era entender o panorama e sugerir uma reformulação do modelo de Estado. No caso específico de seu grupo, constatou-se o erro da gestão Bolsonaro de unir em uma pasta os ministérios da Fazenda, do Planejamento e da Indústria e Comércio.
“Ele pegou um ministério que é para construir política industrial e um que arrecada e, ao colocar o Planejamento, eliminou a visão de longo prazo do País. Transformou tudo em um grande ministério de curtíssimo prazo, sem nenhuma visão de futuro“, criticou o deputado petista.
Outra constatação, segundo Verri, é de que o Orçamento apresentado por Bolsonaro para 2023 é “uma grande fraude”. O parlamentar cita como exemplo o Auxílio Brasil – ou Bolsa Família – de 600 reais: na peça orçamentária levada pelo atual governo ao Congresso Nacional, a previsão é de pagar apenas 405 reais a cada beneficiário.
O deputado menciona ainda valores irrisórios previstos por Bolsonaro para a compra de ônibus escolares, para o Farmácia Popular e para o Minha Casa, Minha Vida.
“Ele estourou qualquer capacidade de investimento do Estado”, prossegue. “A culpa maior é a política do teto de gastos, mas também a incompetência do Paulo Guedes, ministro voltado aos interesses só da banca, e também a incompetência do Bolsonaro como gestor.”
O GT de Planejamento, Orçamento e Gestão recomendou, por exemplo, a separação da Economia em pelo menos três ministérios: Planejamento, Orçamento e Gestão; Fazenda; e Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Na segunda 12, o futuro ministro da Casa Civil, Rui Costa, sinalizou também a possível criação de uma pasta responsável pela gestão do governo federal, abrangendo tarefas como recursos humanos e governo digital. A mudança ocorreria a partir do desmembramento do novo Ministério do Planejamento.
Segundo Verri, Bolsonaro cumpriu a promessa de “destruir tudo o que estava construído”, ao “acabar” com a estrutura econômica do Estado. Diante disso, além da recriação do Ministério do Planejamento, surgem como necessidades a garantia dos recursos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – a fim de, por exemplo, assegurar a conclusão do Censo – e a recomposição da Escola Nacional de Administração Pública.
“Também organizar um ministério para que ele possa cuidar do dia, mas possa olhar o Brasil daqui a vinte anos, para que a gente possa ter política de investimentos em todas as áreas e recuperar uma coisa que é histórica desde a ditadura: o papel de investimento do Estado”, resumiu Enio Verri. “Isso mesmo na ditadura se manteve, mas o governo Bolsonaro destruiu.”
Assista à íntegra da entrevista:
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