Política

Costa Neto promove jantar para acalmar ânimos no PL, dividido sobre questionamento das urnas

Dirigente da sigla quer levar presidente Jair Bolsonaro para reunião com as bancadas do Congresso com o objetivo de engajá-lo na vida partidária e contornar mal-estar provocado por multa de R$ 22 milhões do TSE

Antes, Neto ganhava um salário de R$ 28.758,30 como presidente do partido. Foto: Mateus Bonomi/Agif/AFP
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O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, planeja convidar o presidente Jair Bolsonaro para o jantar com as bancadas do partido no Senado e na Câmara, que foi marcado para hoje à noite, em Brasília. O evento foi convocado por Valdemar como uma tentativa de acalmar os ânimos após o partido ser punido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com uma multa de R$ 22,9 milhões por ter entrado com uma ação pedindo a anulação, sem provas, de votos no segundo turno das eleições.

O objetivo de Valdemar é engajar Bolsonaro no dia a dia da legenda, na qual ele se filiou há apenas um ano. O chefe do Executivo já foi convidado para ser presidente de honra do PL e terá à disposição um escritório em Brasília.

A possível presença de Bolsonaro também é uma sinalização de que Valdemar, por enquanto, não deverá se distanciar das pautas de interesse da base do presidente da República. Diante da divisão interna, Valdemar tem preferido chamar o encontro de “confraternização” para apresentar parlamentares antigos aos bolsonaristas, que migraram para o PL junto com o presidente da República e têm conseguindo ditar os rumos da sigla.

A ação do partido, que questionou, sem provas de fraude, a legitimidade das eleições, atendeu a uma pressão dos aliados de Bolsonaro, mas gerou críticas internas da ala mais pragmática.

Deputados desse grupo afirmam que não foram consultados e que teriam se posicionado contra a iniciativa. Autointitulados “valdemaristas”, esses parlamentares temem que a sigla enfrente novos problemas na Justiça por causa da ação, mas têm evitado fazer críticas públicas ao presidente do partido.

Um dos pilares do Centrão, o PL elegeu a maior bancada para a Câmara dos Deputados, com 99 parlamentares. A estimativa da própria legenda é que, desse total, cerca de 40 seriam mais “pragmáticos” e estariam dispostos a apoiar o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva caso sejam atendidos com cargos e emendas.

Mudança de estratégia

Há um entendimento na cúpula da sigla de que Valdemar deve se equilibrar entre esse grupo e os bolsonaristas, que foram responsáveis por impulsionar a nova bancada. Por isso, o dirigente tem dito em conversas reservadas que o engajamento de Bolsonaro na vida partidária é importante para obter um bom resultado nas eleições municipais de 2024.

A intenção é aproveitar o capital político de Bolsonaro para ampliar o número de prefeituras. Em 2020, quando ainda não tinha o atual presidente, a legenda elegeu 345 prefeitos, apenas a sexta maior quantia entre as demais siglas.

Apesar de Valdemar Costa Neto ter convocado as bancadas para um jantar de aproximação, a expectativa é que o embate com o TSE seja um dos temas da reunião. Na conversa, o dirigente da sigla tem a intenção de propor uma mudança de estratégia: diminuir a ofensiva no Judiciário e concentrar esforços em organizar a oposição ao governo Lula no Congresso.

Isso inclui bloquear a PEC da Transição, a Proposta de Emenda à Constituição que abre espaço no Orçamento de 2023 para promessas de campanha de Lula, entre elas o Bolsa Família no valor de R$ 600.

— A PEC está sendo dificultada pelo próprio PT. Ela não existe. Não tem texto, não tem ministro da Fazenda, não tem conversa. Ninguém consegue negociar o que não conhece — diz o líder do governo Bolsonaro no Congresso, senador Eduardo Gomes (PL-TO).

Valdemar também deve anunciar como uma das prioridades do PL obter a presidência da Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) na Câmara e no Senado, garantindo o poder de ditar o ritmo de projetos importantes para o futuro governo Lula. Além disso, deve lançar a candidatura do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), presidente da Frente Parlamentar Evangélica, para a primeira vice-presidência.

— É um jantar de confraternização, mas também servirá para hipotecar o apoio à reeleição do presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), que é um compromisso anterior — diz Sóstenes.

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