Política

Propaganda eleitoral tem desafio de gerar esperança em eleitor ressentido, diz analista

Inserções de propaganda dos candidatos e programas eleitorais começam a ser exibidos nesta sexta-feira 26, faltando 37 dias para o primeiro turno

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Apoie Siga-nos no

É atrás de um eleitor indeciso, desiludido, mas que pode fazer toda a diferença nas eleições que começa nesta sexta-feira 26 a propaganda eleitoral no rádio e na TV. Os marqueteiros sabem que dificilmente vão conseguir mudar o voto do eleitor apaixonado por Jair Bolsonaro (PL) ou por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na chamada “polarização afetiva”, disse à RFI Max Stabile, diretor executivo do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados.

O esforço, então, é gerar um mínimo de esperança para atrair o voto de quem ainda está em cima do muro.

“O eleitor indeciso é o eleitor ressentido com o governo Bolsonaro, ressentido com o voto no PT nos últimos anos. É a desilusão desse processo. Vai ser fundamental que a campanha consiga mobilizar um aspecto de esperança e expectativa. Não vai ser fácil. Talvez seja aí um dos principais desafios desse processo”, afirmou Stabile.

A propaganda eleitoral já mudou o rumo de eleições, como aconteceu em 2014 quando a equipe de Dilma Roussef (PT) fez de tudo para segurar o avanço de Marina Silva (na época no PSB), desconstruindo a imagem da ex-ministra num nível bastante agressivo, o que deixou feridas abertas até hoje.

Mas a vitória de Bolsonaro em 2018 mostrou que outra frente pode pesar e muito nas eleições atuais: a replicação de conteúdo por apoiadores de um candidato nas redes sociais.

“A produção de conteúdo feita especificamente para que as pessoas compartilhem é um ponto fundamental e é o aprendizado da campanha de 2018 do Bolsonaro”, assinala Stabile. A forma como a própria campanha consegue produzir material e canal para esse desdobramento, para que as pessoas compartilhem entre si, pode ser um elemento decisivo.

Pela divisão com base nas bancadas legislativas, Lula terá 3 minutos e 39 segundos de tempo de rádio e TV, além de 286 inserções menores ao longo da programação; Bolsonaro tem o segundo maior tempo, com 2 minutos e 38 segundos, e 207 inserções. Simone Tebet (MDB) ficou com 2 minutos e 20 segundos; e Ciro Gomes (PDT) vem bem atrás com 52 segundos e 68 inserções.

Entrevistas com candidatos

O Jornal Nacional da TV Globo, telejornal de maior audiência no país, entrevista nesta quinta-feira à noite o candidato do PT. Na sexta será a vez de Simone Tebet. A rodada de perguntas aos presidenciáveis começou na segunda com Bolsonaro, seguido de Ciro Gomes, na terça.

A analista Luciana Santana, doutora em ciência política, diz que Bolsonaro não ganhou nem perdeu em sua participação, o que se entende como um bom desempenho, apesar de escorregar em temas como meio ambiente.

“Especialmente em relação à Amazônia. Talvez tenha sido a questão em que ele mais teve dificuldade de responder à altura. Em uma parte até gaguejou. Mas diria que de forma geral, Bolsonaro acabou tendo um desempenho bom, no sentido de que ele estava ali dialogando com eleitores que já estão alinhados às suas perspectivas, às suas defesas”, avalia Santana.

Sobre Ciro Gomes, a cientista diz que o candidato do PDT demonstrou conhecimento e segurança ao falar dos problemas do país, mas errou ao manter um discurso purista e intelectualizado.

“Eu considero que foi uma boa entrevista, consciente. Você consegue perceber a maturidade do Ciro em conhecer os problemas do país, em desenvolver bem, argumentar bem. Mas Ciro ainda tem apostado em algumas narrativas que não condizem com a atual conjuntura política”. Ela cita, como exemplo, os ataques a alianças no Congresso de uma forma que sugere a possibilidade de se governar sem coalizão. “É inviável e impossível você imaginar que um presidente consiga governar sem compartilhar poder. Esse discurso muito intelectualizado, um discurso muito purista acaba prejudicando o Ciro”, opina Santana.

Debate

Havia dúvidas sobre um dos pontos altos de uma eleição, o debate entre os candidatos, por indecisão dos dois líderes nas pesquisas de intenção de voto. Mas Lula disse que irá participar e Bolsonaro indicou que também poderá ir, embora não tenha confirmado oficialmente.

O primeiro debate está marcado para a noite de domingo (28) na TV Bandeirantes, em parceria com a TV Cultura, o site UOL e o jornal Folha de S.Paulo. As regras foram definidas na presença de assessores de todos os candidatos convidados. Quem faltar terá uma plaquinha com o nome e o microfone vazio.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo