Política
Bolsonaristas lançam ofensiva contra padre que criticou Bolsonaro no Paraná
Religioso de Umuarama disse que o PT ‘sempre ficou do lado do povo’, enquanto o ex-capitão é ‘o que exclui o pobre, o negro e o homossexual’
A reta final do segundo turno da eleição presidencial registrou mais um episódio de ataque de bolsonaristas a representantes da Igreja Católica, desta vez no município paranaense de Umuarama, distante pouco menos de 600 quilômetros da capital Curitiba.
O caso veio à tona após um padre da Catedral do Divino Espírito Santo se manifestar em um áudio sobre críticas a Dom Frei João Mamede Filho, bispo da Diocese de Umuarama, por receber a visita do deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR).
Na segunda-feira 17, o site local Umuarama News publicou a gravação em que o padre Luiz Cézar Bento diz que o bispo recebeu Dirceu “como deputado que é e como ele recebe todas as pessoas que têm autoridade”. Também afirma que o PT “não é esse bicho de sete cabeças que pintam” e que o presidente Jair Bolsonaro (PL) “é quatro vezes pior”.
O padre ainda diz que enquanto o PT “sempre ficou do lado do povo, do pobre e do negro”, Bolsonaro é “o que exclui o pobre, o negro e o homossexual”.
Horas após a publicação do áudio, a diretora do site, Flávia Azevedo, publicou nas redes sociais um vídeo em que faz graves ataques ao padre.
“Você é um padreco do inferno. Por que você, padreco, não fala que o PT é a favor de aborto? Você não representa os cristãos, padreco do Satanás”, diz a bolsonarista na postagem. “E eu, como cidadã cristã, quero saber do bispo de Umuarama qual vai ser a atitude. Indignação total dos cristãos de Umuarama.”
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Nos comentários dos posts, outros bolsonaristas ecoaram os ataques. “Indignado como católico e cristão.. Contra o padre. Apaianndo [sic] essa ideologia satânica desses PT partido dás [sic] trevas 💩👹 comunismo”, escreveu um deles. “Isso não pode nem ser chamado de padre e sim de funcionário do diabo!”, afirmou outro usuário.
A CartaCapital, Zeca Dirceu confirmou a visita ao bispo e repudiou os ataques ao padre.
“Sou católico, tenho relação com a igreja desde a minha infância. Umuarama é a cidade onde eu nasci, é a cidade onde sempre tenho a maior votação. E esse bispo já está lá há muito tempo. Visito ele com frequência, independentemente de ser ano eleitoral. Não é a minha primeira visita a um bispo”, relatou o parlamentar.
Segundo Dirceu, os ataques ao padre “provam o nível de insanidade que Bolsonaro trouxe, infelizmente, para a mente de algumas pessoas”.
Flávia Azevedo concorreu a deputada federal pelo PL, partido de Bolsonaro. Ela obteve 2.164 votos e conquistou uma vaga de suplente na Câmara.
A hostilidade a representantes da Igreja Católica foi tema de um discurso do candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na segunda 17, em São Paulo. De acordo com a campanha petista, 200 religiosos participaram do evento, no qual o ex-presidente afirmou nunca ter visto o Brasil “tomado pelo ódio” como hoje.
“Eu tenho lido notícias de padres atacados durante a missa porque estão falando da fome, da pobreza e da democracia. Eles estão sendo atacados por pessoas que sempre conviveram com a gente, e a gente não sabia que essa pessoa tinha tanto ódio dentro dela”, disse Lula.
Na última quarta-feira 14, bolsonaristas interromperam uma missa e hostilizaram um padre na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Fazenda Rio Grande (PR). O episódio ocorreu após o religioso criticar o armamentismo e o uso da fé com fins eleitorais.
A cena é semelhante à que aconteceu no Santuário de Aparecida, em São Paulo, em 12 de outubro, quando bolsonaristas hostilizaram profissionais da TV Aparecida, intimidaram pessoas que vestiam vermelho e vaiaram discursos sobre a fome no Brasil.
CartaCapital entrou em contato com Flávia Azevedo, por meio de seu site oficial, e com a Catedral do Divino Espírito Santo, via e-mail, mas ainda não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestação.
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