Política
Funcionárias da Caixa apontam acobertamento e exigem investigação da conduta de Pedro Guimarães
Ex-funcionária relembra que denúncias de assédio sexual e moral contra o presidente da banco começaram a surgir ainda em 2019
Na tarde desta quarta-feira 29, cerca de 200 trabalhadores e aposentados protestam contra o ex-presidente do banco, Pedro Guimarães em frente à Matriz I da Caixa Econômica Federal, em Brasília,
Ele é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) por assédio sexual e moral a funcionárias, como publicou a reportagem do site Metrópoles. A ação segue sob sigilo de justiça.
Isabel Gomes, funcionária aposentada do banco, contou em conversa com CartaCapital que os primeiros casos referente a postura de Guimarães com as bancárias foram acobertados ainda em 2019, ano que ele assumiu a presidência da Caixa.
“Tornou-se público um episódio de que o vigilante tinha visto um carro trepidar na garagem, foram ver o que era e era o presidente da Caixa que estava em um ato sexual com uma colega dentro da garagem do estacionamento da Caixa”, relata.
Este e outros casos chegaram pessoalmente em forma de denúncia ao esposo de Isabel, o então ex-presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) e também aposentado, Pedro Eugênio Beneduzzi.
“O meu marido apelidou ele de ‘Pedro da Garagem’ e começou a fazer alusões a isso para chamar a atenção”, após a manifestação de Beneduzzi sobre este caso, além das acusações de que o presidente da estatal seria dono de um outro banco e atuaria para enfraquecer os serviços da Caixa, Guimarães entrou com uma ação pedindo 200 mil reais em indenizações.
“Foi uma intimidação e um recado. Se ele tinha coragem de fazer isso com uma pessoa conhecida como o Pedro Eugênio, com muito mais razão ele faria contra qualquer pessoa que fosse se opor a ele”, afirma Isabel Gomes, que mesmo após a morte súbita do esposo, ainda sofre retaliações da gestão.
O caso foi finalizado em acordo de Beneduzzi com Guimarães. Ele foi proibido de mencionar a Caixa ou o presidente em suas publicações, com isso ficou isento do pagamento da multa.
“Se tivessem dado atenção a isso três anos atrás, nós não teríamos chegado nesse lugar agora, dessa gravidade”, conclui.
Para Marcia Kumer, funcionária da Caixa durante 36 anos, relata que o cenário ainda é de muito temor entre os funcionários. “Todos têm muito medo, é a sua sobrevivência, é sua casa, seus filhos. Existem chefes que se expressam com seus subordinados: ‘Só falem o necessário’. O clima de intimidação e terror na Matriz é algo assim inimaginável”.
Diante a revolta e insegurança dos servidores, a Fenae participou dos atos e pediu afastamento imediato de Pedro Guimarães. Em nota, afirmou que os fatos são gravíssimos e devem ser apurados com urgência e rigor.
A Diretora de Políticas Sociais da Fenae, Rachel Weber, reiterou que apesar da urgência que Guimarães saia da gestão da Caixa, somente sua demissão não resolve o problema e que a entidade vai cobrar medidas da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban).
“A nossa intenção principal é acolher essas mulheres, principalmente sabendo que elas podem passar por processos de perseguição e retaliação”, explica.
Outras entidades, como a Federação dos Bancários do Centro-Norte, o Sindicato de Bancários de Brasília, São Paulo, Osasco e região também exigiram o aprofundamento da investigação dessas denúncias.
A ex-presidente da Caixa, Maria Fernanda Coelho, classificou a situação como ‘estarrecedora’ e afirmou que “gestão de Pedro Guimarães se caracterizou por perseguições e deboches”.
“O comportamento reiterado ao longo destes anos traduzem uma gestão que se caracterizou pela dilapidação do patrimônio público, desrespeito aos empregados, com perseguições e deboches, levando ao adoecimento de amplo contingente de empregadas e empregados”, escreve em nota.
Ela ainda reitera a importância das denúncias realizadas por Beneduzzi e sugere a criação de uma comissão de apuração extraordinária para acompanhar o caso.
Segundo a colunista do jornal OGlobo, Malu Gaspar, as condutas abusivas de Guimarães antecedem a presidência da Caixa. Em sua passagem pelo banco Santander, ele tentou beijar à força uma funcionária durante uma festa de final de ano.
Reação no Congresso
Também estiveram presentes no ato, a deputada Erika Kokay (PT-DF) e a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP). Ambas protocolaram ações frente ao caso.
Bomfim junto às parlamentares Fernanda Melchionna e Vivi Reis do PSOL, pediram ao MPF o afastamento imediato do presidente da Caixa e a convocação dele nas Comissões da Mulher e do Trabalho e Serviço Público da Câmara dos Deputados, para responder às acusações.
Kokay também pediu a convocação do ministro Paulo Guedes para prestar esclarecimentos, além das seguintes medidas:
- Representação ao Ministério Público do Trabalho para abertura de inquérito para investigar eventuais crimes e ilegalidades no âmbito das relações de trabalho;
- Denúncia, junto à Comissão de Ética Pública da Presidência da República, para análise sobre suposta infração ao Código de Conduta da Alta Administração Federal;
- Representação, junto ao Ministério Público Federal, pleiteando que o órgão faça pedido de afastamento imediato do Sr. Pedro Guimarães da Presidência da Caixa Econômica Federal.
- Requerimento de audiência pública da CTASP sobre assédio sexual no mundo do trabalho.
- Requerimento de convocação do ministro da Economia, Paulo Guedes, para que ele explique ações em relação à conduta de Pedro Guimarães.
- Requerimento de informação ao ministro Paulo Guedes sobre quais ações foram adotados no caso Pedro Guimarães;
- Ofício à Procuradoria da Mulher da Câmara para que esta acompanhe as investigações.
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