Frente Ampla

Moïse, Durval, Hiago e a caça aos negros

Não temos o direito à vida? Direito de ir e vir? Direito à segurança? Nos três casos, isso foi negado de maneira veemente e brutal

Justiça por Moïse: Protesto em São Paulo, neste sábado 5 de fevereiro. Foto: Nelson Almeida/AFP
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Não é exagero quando dizemos que nós, pessoas negras, temos um alvo desenhado nos nossos corpos. Isso é nítido quando lemos os jornais e assistimos os noticiários: todos os dias um de nós tomba pela violência racista do Estado ou de um “cidadão de bem”.

Nessas últimas semanas, fomos bombardeados com tragédias. Os assassinatos brutais de Moise Kabagambe, Durval Teófilo e Hiago Macedo incendiaram o pavio da nossa indignação e revolta. Não temos o direito à vida? Direito de ir e vir? Direito à segurança? Nos três casos isso foi negado de maneira veemente e brutal.

E esses três casos fazem parte de um cenário trágico que é muito mais amplo. A verdade é que os corpos negros são considerados “descartáveis” e o seu extermínio é frequentemente justificado por uma suposta relação entre as vítimas e a criminalidade. Frases como “Ele tinha passagens pela polícia” ou “Eu achei que ele fosse me assaltar” são acionadas como se permitissem o genocídio do povo negro. Como se a “legítima defesa” fosse uma carta branca para nos matar, já que na visão racista todo negro é um bandido em potencial.

Essa visão da “criminalidade latente” do povo negro influencia sobretudo no modus operandi dos agentes de segurança do Estado. Recentemente, uma pesquisa mostrou que 63% das abordagens policiais no Rio de Janeiro têm como alvo pessoas negras. Isso é absurdo! É a constatação de que nós negros vivemos um verdadeiro Big Brother, sempre vigiados pelos olhos racistas. Como no título da série americana, somos vigiados por “Olhos que Condenam”.

Trazendo mais dados, vemos que o Atlas da Violência de 2021 aponta que pessoas negras têm o dobro de chance de serem assassinadas e representam 77% das vítimas de homicídio. É assustador. Nós vivemos um filme de terror, um estado de guerra constante em que estamos sendo derrubados um a um. Não dá para fingir que está tudo bem: estamos sendo atropelados pela escalada de ódio que vem sendo insuflada no nosso país desde 2018 e o aumento da insegurança é diretamente ligado a isso.

Aliás, falar em insegurança é um ponto central. Precisamos pensar num novo modelo de segurança pública já que visivelmente o atual só tem gerado mais problemas, mais caos, mais criminalidade e mais mortes. Temos que investir em uma política de capacitação e formação continuada dos agentes públicos aliada à um investimento em inteligência. Não dá para manter essa velha estrutura que nada mais é do que uma máquina de moer pobres e pretos.

Outro ponto fundamental é que temos que rejeitar de maneira veemente qualquer tentativa de armar a população, como deseja esse desgoverno federal. Vivemos no país que mais mata mulheres, LGBTs e negros, se adotarmos uma postura armamentista vamos dar início a um verdadeiro banho de sangue. Não é esse o caminho nem é essa a solução.

A luta antirracista é uma luta pela transformação da nossa sociedade e isso passa por todas as esferas, em especial a educação e a segurança. Por isso ela é tão necessária. Para que um dia possamos parar com o nosso luto permanente pelos nossos irmãos e irmãs que tombam. Para que tenhamos outras razões para nos indignarmos, sem ser o nosso extermínio. Precisamos estar juntos, firmes, alinhados nessa batalha pela vida. Essa deve ser uma bandeira de todos nós, em nome de um futuro com dignidade para todos!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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