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Startups

CapTable lança marketplace para investir em startups e aumenta concorrência de novas "exchanges"

Chamada de Captable Marketplace, iniciativa conta com 15 startups já embarcadas e 6 mil investidores credenciados

Paulo Deitos: competição vai aumentar com nova regulação, mas CapTable quer ser referência nesse novo mercado (Isabel Baruk/Divulgação)
Paulo Deitos: competição vai aumentar com nova regulação, mas CapTable quer ser referência nesse novo mercado (Isabel Baruk/Divulgação)
KS

Karina Souza

11 de julho de 2022 às 12:00

Uma espécie de 'bolsa' para investir em startups. É esse, talvez, o melhor sinônimo para compreender o novo produto da CapTable, plataforma de investimentos nesse tipo de empresa criada pela StartSe, disponibilizada ao mercado nesta segunda-feira. O lançamento é, oficialmente, chamado de Captable Marketplace — por questões regulatórias, não pode ser chamado de ‘bolsa’, já que funciona como uma antessala de um pregão — e vem na nova onda de exchanges aprovadas para operarem no Brasil, de olho em um mercado secundário para pequenas e médias empresas. Dentro da nova plataforma, será possível ver startups com rodadas de captação abertas, consultar informações, além de comprar e vender papéis relacionados a cada uma delas. A plataforma nasce com 15 startups embarcadas (com potencial de ir para 25 já neste primeiro mês), o que representa metade das que já passaram pela empresa desde 2019. O foco está principalmente em empresas ‘early stage’, com rodadas de captação que vão até o Series A. 

A CapTable já disponibilizava (e continua mostrando) dentro do próprio site uma seção para que investidores pudessem adquirir participações em startups que estivessem com rodadas de captação ativas (emissão primária). O que muda, com a nova plataforma, é que agora os investidores poderão trocar entre si os papéis adquiridos em empresas que fizeram rodadas de captações pela plataforma de investimentos da StartSe. As mudanças vêm na esteira da resolução 88 da CVM, segundo a empresa. A norma foi publicada em 28 de junho.

Outras empresas estão perseguindo um objetivo similar, de criar e fortalecer um mercado secundário para as empresas que ainda não têm o porte necessário para negociar suas ações na B3. Duas delas são a SMU e a BEE4, que atualmente têm suas operações dentro do sandbox regulatório da CVM.

Para Paulo Deitos, cofundador da CapTable, é apenas o começo. “Pensando no número de empresas que fizeram rodadas de captação nos últimos dois anos, acredito que haveria espaço para ter, por exemplo, metade desse total dentro da plataforma”, diz, ao EXAME IN. O executivo afirma que até mesmo grupos de investidores-anjo já procuraram a empresa, desde já, para entender melhor como poderiam entrar para o marketplace — o que ajuda a comprovar o potencial do lançamento. 

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Para que o número de startups aumente dentro da plataforma e chegue até onde o executivo menciona, há que se fazer uma mudança regulatória. No detalhe, a resolução 88, da CVM, publicada em 28 de junho, permite apenas que empresas que já fizeram uma rodada de captação pela CapTable possam estar presentes dentro do marketplace. O detalhe está no artigo 15: “É permitido às plataformas eletrônicas de investimento participativo atuar como intermediadoras de transações de compra e venda de valores mobiliários já emitidos publicamente por sociedade empresária de pequeno porte que tenha realizado pelo menos uma oferta pública de distribuição no ambiente da plataforma”. Diante desse cenário, não fica excluída a possibilidade de que empresas realizem uma rodada de captação pela empresa para conseguirem entrar para a nova plataforma. 

Um ponto similar acontece com os investidores. Dentro do artigo 2º da nova regulação, fica prevista a figura do investidor ativo, ou seja, pessoa que “tenha realizado investimento em pelo menos uma oferta pública conduzida pela plataforma nos últimos dois anos”. Trocando em miúdos: quem nunca investiu na CapTable não terá acesso ao marketplace. Será até possível encontrar um ícone para a plataforma no próprio site da empresa, porém ao realizar o cadastro, o usuário vai ver uma mensagem de que não poderá ter acesso aos dados. De novo, nada impede que pessoas interessadas possam investir para acessarem o marketplace. “Acreditamos que essa regra possa passar por revisões no futuro, mas por enquanto não temos previsão de como isso pode acontecer. Por enquanto, é aquilo, ‘tem de comprar o vestido para depois ir para a festa’”, diz Deitos. 

Hoje, cerca de 6 mil usuários terão acesso à nova ferramenta, com projeção de que pelo menos 30% desse número já passe a usar a partir do primeiro dia de operação. São investidores divididos em três grupos: os de tíquete médio alto são formados por pessoas que tiveram posições de liderança em grandes empresas e que hoje estão aposentadas, mas querem ‘beber da fonte’ da inovação com os empreendedores; os de tíquete médio, que são pessoas com um nível de renda próximo ao dos de tíquete alto mas que ainda continuam na ativa e buscam, inclusive, benefícios para a própria carreira, e os investidores de tíquete mínimo, que têm carência de acesso a produtos financeiros, via de regra, e começam a investir nesse mercado como uma oportunidade de rentabilidade. Considerando todos estes públicos, os aportes feitos na plataforma já somam mais de R$ 67 milhões. 

Agora, dentro da plataforma, como manda a regulação, só serão realizadas rodadas que visem levantar até R$ 15 milhões, com aportes de investidor comum de até R$ 20 mil e de 10% do patrimônio líquido financeiro de investidores qualificados. O investimento mínimo de R$ 1 mil, hoje já presente na CapTable, será mantido também dentro desse novo ambiente, segundo o executivo. “Por que trabalhamos com tão pouco? Porque acreditamos que o ideal é fornecer acesso às pessoas para diversificarem a carteira. Se alguém quer investir em dez startups e o mínimo não fosse R$ 1 mil, considerando que o ideal para esse tipo de investimento é de 5% a 10% do patrimônio, essa pessoa teria de ter uma quantia enorme de dinheiro”, diz Deitos.

O executivo acredita que, unindo o investimento mínimo baixo à nova plataforma, será possível trazer mais confiança a quem já tinha a intenção de fazer aportes em startups, mas acreditava que esse era um mercado difícil de ser entendido. A ideia é que o marketplace comece a trazer alguma liquidez para as participações adquiridas e mais transparência sobre o valuation das companhias não só no momento da compra e da venda, mas com uma frequência semestral. 

Para isso, a CapTable recomenda que as startups dentro da plataforma passem por uma espécie de auditoria a cada seis meses, com os dados verificados por uma empresa terceira, a fim de trazer mais metodologias e confiança para esse setor. “Essa será a nossa forma de marcação a mercado. Ainda não temos certeza de como será estruturada para ficar 100%, mas por enquanto estamos indo no MVP seguro em termos de regulação”, diz Deitos.

O executivo não divulga os valores investidos pela empresa para colocar a plataforma de pé, mas afirma que foi um trabalho desenvolvido ao longo dos últimos dois anos, tomando como base a primeira vez que o regulador tocou em um ponto como esse e deu indícios de que algo poderia ser formatado em breve.

Concorrência

Antes mesmo de a regulação sair, outras empresas já estavam de olho nas oportunidades que o mercado subsequente de startups pode trazer. Algumas delas são a BEE4, uma espécie de ‘exchange’ para pequenas e médias empresas, e a SMU, uma empresa responsável por estruturar e organizar captações via crowdfunding, que colocou na rua uma ferramenta para negociação secundária.  “Somos um mercado de acesso. Nós nos vemos como um celeiro para a B3, não uma concorrência”, afirmou Patrícia Stille, CEO da BEE4, em entrevista ao EXAME IN em maio. 

A ideia da CapTable também segue esse conceito. O foco é o de estruturar um mercado que possa fornecer uma alternativa aos investidores e às empresas que precisam de fundos, especialmente em um momento tão delicado para startups em geral. É uma forma de permitir que cresçam e de gerar mais interesse dos investidores por elas, por assim dizer.

Com tantas novas iniciativas — e uma regulação recente sobre cada uma dessas plataformas — fica um gostinho de que é só o começo. Questionado a respeito de possíveis iniciativas de integração dos sistemas, Deitos vê o cenário com bons olhos. 

“O número de concorrentes tem aumentado bizarramente, mas a maior parte das plataformas ou não opera ou não trabalha diretamente com startups. Parece que assim como aconteceu com os FIDCs, em que todo mundo queria ser um banco, vai acontecer algo similar com as plataformas. Acredito que nos próximos cinco anos não devemos ver uma integração tão forte entre elas, mas depois disso, creio que pode se tornar um processo inevitável. Será um jogo de winner takes it all e estamos nos preparando para isso”, diz o executivo. 

 

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