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Artigo: Acompanhar startups não é seguir empresas listadas na bolsa

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* Milton Daré é fundador da FEA Angels

Startups estão em busca de um modelo de negócios escalável. E justamente por isso, não se deve exigir delas uma contabilidade de empresa grande, bem estruturada, com níveis de governança bastante estruturados como aqueles que vemos em empresas listadas na bolsa, e que precisa mostrar o quão bem o seu modelo de negócios já comprovado está sendo executado – até porque, startups devem validar seus modelos de negócio inicialmente.

No entanto, muitos empreendedores e investidores ainda fazem essa distinção, o que pode acabar tirando o foco e o entendimento do que está indo bem, ou não. Dito isso, até certo ponto, é possível comparar o investimento em uma startup à de uma contratação de um novo colaborador na sua empresa. 

Em ambos os casos, o olhar é semelhante. É preciso conhecer as entregas anteriores dos fundadores e analisar aspectos comportamentais importantes. E vou dar exemplos reais do que já vi acontecer. Em pouco mais de três anos, a FEA Angels, rede de investidores anjo da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, investiu em 34 startups. E já houve founders que tinham empreendido antes, trabalhado nas principais consultorias, feito MBA exterior, que não conseguiram levar um negócio adiante, porque não sabiam ouvir ou dividir responsabilidades. É sempre válido lembrar que os anjos podem aportar, além de dinheiro, conhecimento e contatos. 

Nesse sentido, é um ponto positivo de uma startup em estágio inicial não ter um solo founder, para que possa haver contrapontos e , também, para que os fundadores tenham sócios a quem possam se apoiar. Procurar ter respaldo de uma rede de investidores forte, também. E vejam só que coisa interessante. O retorno sobre o investimento, logicamente, é uma motivação dos investidores anjo. Mas logo na sequência, eles citam a possibilidade de ajudar outros empreendedores, a geração de emprego e o fomento ao ecossistema, contribuir com uma ideia e estarem atualizados. Aqui, portanto, há uma relação de colaboração, não uma cobrança. E todos podem se beneficiar disso, independentemente da startup se tornar, ou não, um unicórnio. 

Poucas, alias, viram unicórnios. Mas várias podem trazer um bom retorno em longo prazo, principalmente aquelas que têm um potencial grande de geração de caixa ou, também, de serem compradas por outras empresas – cada vez mais vemos empresas buscando comprar startups para se reinventarem e se manterem competitivas no mercado (um exemplo claro: Locaweb, que fez mais de 12 aquisições de empresas nos últimos 12 meses).

Com tantas adversidades, concorrência e mudanças de hábitos de consumo em alta velocidade, as grandes companhias enxergam os M&A’s como uma rota alternativa para a inovação para se alcançar um diferencial competitivo. Para dar conta das novas demandas de mercado é preciso de muito tempo, muita gente e muito dinheiro. É mais fácil, e mais rápido, comprar ou firmar parcerias com startups que criam essas soluções e resolvem essas novas dores. Não à toa, 2021 teve recorde de fusões e aquisições no Brasil. 

De olho nas métricas

Startups nascentes, portanto, precisam de poucas e boas métricas que não gerem complexidade na gestão, mas sim velocidade e eficiência. E, aqui, a segurança jurídica, transparente, pode, de um lado, garantir novos aportes e, do outro, um bom retorno financeiro – o investidor anjo deve ter atualizações mínimas trimestrais de como anda a startup, assim ele pode identificar eventuais oportunidades de colaboração com a empresa.

Como fundador, você está testando uma série de hipóteses sobre todas as peças de um modelo de negócio. Numa startup, o que é essencial é saber quais são os números vitais para o negócio. Eles, geralmente, devem ser discutidos nas reuniões de diretoria e reportados aos investidores. Essas métricas podem indicar que o modelo de negócio que você inicialmente escolheu pode não valer a pena escalar, e então será a hora de mudar a rota do seu negócio. 

E já que estamos falando de números, vamos a eles. Cerca de 1% das startups se torna unicórnio, segundo dados da CBInsights. Três de cada 10 companhias que receberam investimentos seed abrem capital ou fazem M&A, porcentagem que aumentou no último ano. E 67% das startups desaparecem ou se tornam zumbies, o que pode ser bom para o fundador, mas não necessariamente tão bom para o investidor em termos de retorno sobre investimento.  O cenário, no entanto, pode se tornar mais promissor se olharmos para além dos retornos fabulosos e pensarmos na nossa responsabilidade – e realização pessoal e profissional – ao contribuir para um ambiente mais favorável ao empreendedorismo no Brasil.

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