TERçA, 16/05/2023, 10:40 Cidade

Na contramão da crise de segurança, novos negócios abrem as portas no Centro de São Paulo

Muitos empreendedores fizeram o movimento contrário aos comércios tradicionais, que têm alterado seus funcionamentos por causa da insegurança: escolheram a área para abrir novos negócios - a maioria ligado à gastronomia, à música e à indústria criativa. Preço dos aluguéis é um dos atrativos: na República, por exemplo, o valor do metro quadrado comercial equivale a 35% do que é cobrado no Itaim Bibi. Em bate-papo, a jornalista Denize Bacoccina, do portal 'A Vida no Centro', comenta e exalta a novidade.

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'À Mercê', do empresário Marco Aurélio Braga, abriu no Centro de São Paulo. Foto: Gabriela Rangel/CBN (Crédito: )

'À Mercê', do empresário Marco Aurélio Braga, abriu no Centro de São Paulo. Foto: Gabriela Rangel/CBN

Um consenso entre os moradores e frequentadores do Centro é de que a região não pode ser vista como única. E seguindo esta lógica, bairros como Santa Cecília, Vila Buarque e República voltaram a atrair os olhos de empreendedores com dezenas de inaugurações nos últimos meses.

Se por um lado a segurança pública ainda é um risco, o valor dos aluguéis é uma oportunidade. De acordo com levantamento do Índice Fipezap, feito a pedido da CBN, enquanto no Itaim Bibi o valor do metro quadrado comercial está em torno de R$ 74 reais, na Santa Cecília ele custa cerca de R$ 49 e, na República, quase um terço: R$ 26.

Também conta a forte ligação pessoal dos comerciantes com o Centro. Marco Aurélio Braga já morava na Praça da República e, há 11 meses, abriu com um sócio o À Mercê: ‘nós funcionamos aqui com uma mercearia, que tem produtos artesanais brasileiros, junto com uma cafeteria e mais ao fundo, tem a nossa carta de vinhos’.

Marco e o sócio investiram cerca de 400 mil reais no negócio, e um dos pontos fortes foi explorar a arquitetura do ponto comercial que conta até com um bunker, da época que a legislação obrigava a construção de abrigos antiaéreos por causa da Segunda Guerra Mundial: ‘qual é o outro prédio de São Paulo que tem um Bunker disponível para visitação em que a gente consiga ouvir música, né? Então a gente consegue fazer com que a história esteja presente no nosso dia a dia e as pessoas vivenciarem um pouco disso’.

A busca por um diferencial também está presente em vários negócios. No Cine Cortina, um antigo estacionamento deu lugar a uma proposta que une cinema, balada, restaurante e bar. O Marcelo Sarti, um dos sócios, disse que o ponto alugado era antes um estacionamento, o que demandou mais de um ano de reforma, que valeu a pena: ‘é só desse jeito mesmo que a gente vai conseguir devolver o centro para o lugar que ele merece, sabe?’.

Para o antropólogo Michel Alcoforado, o Centro mantém esse caráter democrático como um atrativo: ‘Eu não acho outro bairro de São Paulo com a capacidade de encontro com o diferente como o Centro oferece. E aí eu estou falando de diferentes classes, de diferentes perfis étnico-raciais, estou falando de diferentes perfis e orientações sexuais, estou falando de diversidade mesmo’.

Apesar da onda otimista de parte dos empreendedores, a associação dos comerciantes do Centro considera que a área que prospera não compensa, no balanço, as demissões e fechamentos de comércios tradicionais, especialmente os populares como os da região da Santa Ifigênia.