ARTIGOS

Publicado em 24/08/2023

REGULAÇÃO PODE (E DEVE) ORIENTAR O FUTURO DA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL

A viabilidade do setor automotivo brasileiro dependerá da correta orientação de futuro da política setorial – o que poderá demorar.

Por Paulo Cardamone | Chief Executive Officer

A indústria automotiva global nunca esteve exposta a tantos movimentos disruptivos de impacto tecnológico como os vividos neste século e que diretamente impactam a escala do setor. Além da descarbonização, outros movimentos em aceleração competem por parcelas do investimento como os relacionados às regulamentações de segurança e emissões, conectividade, digitalização e o futuro dos veículos autônomos.

De todos estes, o que mais tem sido debatido globalmente, inclusive com destaques diários na mídia, é o relacionado ao futuro dos sistemas de propulsão que já consolidou a ideia de que, sem sombra de dúvidas, a eletrificação é o futuro. E está ficando cada dia mais claro que a eletrificação dos sistemas de propulsão está longe de consolidar os veículos puramente elétricos como a salvação da lavoura.

Os principais mercados do mundo começam a cair na real e entender que o remédio para salvar o paciente não é matá-lo, no caso os motores a combustão, e sim alinhar o futuro da mobilidade sustentável às características regionais de cada mercado em relação à capacidade de compra dos consumidores, investimento dos governos e disponibilidade de combustíveis limpos.

No caso do Brasil, a orientação da política setorial para definição do caminho que vamos seguir será fundamental para que os players possam ter previsibilidade e se adequar à escala que precisamos no médio prazo para solucionarmos os desafios da indústria de hoje e em seguida se preparar para a nova realidade da eletrificação. E o novo ciclo do poço a roda sem dúvida será o mais adequado.

Enquanto é ponto pacífico que o futuro da mobilidade é a eletrificação e que devemos preparar o setor automotivo brasileiro para isso, é claro também que a nossa transição para a eletrificação será diferente da de outras regiões e que os legisladores precisam orientar a concertação política de que precisamos, tanto pelas características dos consumidores quanto pelas alternativas energéticas sustentáveis de que dispomos.

No Brasil, no curto prazo, a solução Híbrida Flex é a que mais benefícios trará ao consumidor e contribuirá para que não só olhemos para o ambiental, mas também para o social e econômico, uma vez que a infraestrutura produtiva e a cadeia de suprimentos sofrerão menos impactos durante a transição.

No médio prazo, os Híbridos Plug-in Flex serão a complementação ideal para o portfólio de veículos a serem ofertados aos consumidores brasileiros pois serão os que trarão melhor custo-benefício na mitigação dos gases de efeito estufa.

Tomando-se por base a matriz energética limpa de que dispomos e abastecimento com etanol, um veículo Híbrido Flex emite 34g CO2e/km e sua versão Plug-In apenas 23g CO2e/km, quando comparado a um veículo elétrico puro que emite 18g CO2e/km na matriz elétrica brasileira.

Mobilidade sustentável, como o próprio nome diz, tem que considerar não só a emissão do veículo, mas também os materiais e a transformação envolvidos na fabricação deles. Um BEV, na média, carrega uma bateria entre 50 e 70 KWh, enquanto um Híbrido Plug in uma bateria de 15/18 KWH, ou seja, com uma bateria 70% menor conseguimos uma emissão somente 10% maior sem os custos de uma bateria de grande capacidade e sem a necessidade dos massivos investimentos em infraestrutura de carregamento e futura reciclagem.

Todo momento de disruptura tecnológica como o que vivemos em relação à eletrificação dos veículos traz riscos enormes ao setor industrial e à tomada de decisões das empresas. Esse setor aposta hoje em tecnologias de Ion-Lítio, com investimentos de mais de U$100 bilhões em gigafactories nos EUA e Europa, enquanto floresce uma nova tecnologia de baterias de estado sólido, com menor custo, maior densidade energética e menor risco e que pode mudar completamente o “sourcing” de suprimentos de baterias no mundo. Para um país como o Brasil, no estágio inicial da eletrificação, em qual alternativa apostar? Também deve ser considerado que o hidrogênio a partir de fontes limpas começa a despontar como uma solução de alto valor agregado – não seria essa a alternativa correta de investimento para o Brasil?

Os veículos a serem lançados em 2025 já estão prontos e os destinados a 2027 muito avançados, o que faz com que a assertividade dos legisladores para as próximas fases do programa Rota 2030 deva ser alta com relação à adequação de metas, incentivos e do modelo de tributação. Porém o novo modelo regulatório está atrasado, principalmente pelo fato de o debate sobre a nova política não ter sido aprofundado, aumentando a incerteza do mercado sobre decisões de investimento.

O mercado de veículos leves no Brasil tem andado de lado ao redor de 2 milhões de unidades, sofrido por 3 anos os impactos da pandemia, da crise de componentes, e das restrições provocadas por baixa renda e juros altos. Precisamos encontrar meios de adicionar 1 milhão de veículos ao mercado atual até 2030 para termos uma indústria sustentável e garantir sustentabilidade para o mercado eletrificado do futuro.

A regulação, apesar das críticas, tem se mostrado fundamental para a evolução tecnológica do setor. Em Segurança Veicular, tiramos um atraso que era de 15 anos em 2010 para menos de 5 anos hoje. Em eficiência energética, a partir dos programas Inovar Auto e Rota 2030, evoluímos adicionais 25% em 10 anos, quase quatro vezes mais que no período de 2005 a 2012.

A regulação trata das vendas de veículos novos, porém deixamos de lado a frota de 46 milhões de veículos mal mantidos que poluem, responsável por doenças e mortes em acidentes de trânsito e que consomem mais de R$50 bilhões por ano. É premente a regulação de um programa de Reciclagem de Veículos que seja estruturante e permanente, pois continuamos tratando de programas de subsídios à compra de veículos que nunca funcionarão pois não há dinheiro no mundo que os suporte.

E, se quisermos ser efetivos em desenvolvimento, precisamos urgentemente reestruturar os programas de P&D exigindo celeridade e a boa aplicação dos recursos com metas pré-estabelecidas.

A política setorial deve ser orientada para um crescimento da eletrificação mais pesada já a partir do meio da década, considerando que o carro elétrico puro não é hoje e nunca será a solução única para os problemas de sustentabilidade da mobilidade mundial.

Office: + 55 19 3397.0175

contato@brightisd.com

Condomínio Centre Ville I
Rua Place Des Vosges, 88, BL. 2,
UN 114, CEP 13105-825
Campinas - SP, Brazil

Todos os direitos reservados à Bright Consulting

Desenvolvido por: