Patologização da Vida – Quando comportamentos comuns se transformam em transtornos mentais

A patologização da vida surge em um contexto em que expressões da natureza humana são associadas a categorias médico-psiquiátricas, baseadas na ideia de enquadramento necessário de “doenças mentais” a serem resolvidas por meio do modelo biomédico.

A patologia, em detrimento à pessoa, toma conta na classificação de comportamentos possivelmente naturais diante da vida e impõem a “doença mental” como único elemento de sentido – na maioria das vezes, excluindo a vivencia da pessoa que sofre.

Vivemos em uma sociedade que, ao longo dos anos, moldou-se de acordo com regras e normas rígidas, sempre com o objetivo último de precaver-se da natureza humana e dar diretrizes a ela e suas manifestações.

As resultantes extremadas desse comportamento formam o tema do artigo de hoje. Quando a patologia e a consequente patologização da vida fazem de comportamentos comuns transtornos psicológicos.

Patologia e patologização da vida ao longo da história: como aconteceu?

No decorrer da história humana, nossas paixões e comportamentos, sobretudo quando aconteciam de forma controversa e desmedida, tiveram tratamentos diferentes a depender do contexto, de como eram percebidas e entendidas pelos demais.

Cada momento histórico teve seu discurso a esse respeito. Tivemos os castigos dos deuses; as possessões demoníacas; as perdas da razão; e, mais contemporaneamente, as disfunções de humor, a atuação da genética e os desequilíbrios químicos.

De acordo com Flandrin (1986 apud Ceccarelli, 2010), os discursos sobre a “normalidade”, que poderiam ou não criar patologias, sempre foram de autoridade das elites dominantes, da religião e do Estado.

No início da era cristã, as sociedades que viviam sob o controle das religiões tinham os sacerdotes, inspirados pelos deuses, a ditar as normas de conduta aceitáveis, assim como as classificações do que seria designado patologia dentro do modelo então estabelecido.

Nesse período, as referências éticas e a morais estavam nas mãos das igrejas e suas religiões, e assim, consequentemente, o que era socialmente aceito ou não.

Com o passar dos anos, a ciência substituiria a religião em muitos temas e o novo ideal da humanidade seria pautado na objetividade, quando tudo teria que ter sua causa e efeito previsíveis e analisáveis diante dos conhecimentos humanos.

A era moderna, que pressupunha o saber laico no lugar do saber divino, tem como guia agora de suas práticas, de seus valores e de sua organização, a racionalidade. Quem detém o conhecimento científico – o poder – delibera sobre a normalidade e a patologia.

Sustentado pelos ideais iluministas, o mote da modernidade era lutar contra o arbítrio, em favor das liberdades individuais e da vida. Contudo, a realidade sociopolítica do século XX mostraria a esterilidade do projeto emancipatório dessa era revolucionária.

O conhecimento científico, afetado pelos avanços tecnológicos, passou a ser medido em termos de quantidade de informação: quem sabe mais, tem maior poder. Nesse quadro, novas indagações surgiriam e o descrédito nas ciências como fonte de verdades absolutas caracterizaria o período pós-moderno (Ceccarelli, 2010).

As verdades construídas na modernidade, assim como a crença na razão e na capacidade da ciência em dar respostas, ao menos no âmbito da psicologia e da saúde mental, cairiam em cheque diante da patologização e do aumento desenfreado de diagnósticos mundiais, sem apontamentos concretos.

Diante desse panorama, cabe dizer que as necessidades humanas, balizadas pelas mudanças sociais constantes, obrigam a humanidade a desconstruir representações até então tidas como naturais/referências, para que caminhe em direção a novas – talvez melhores – simbologias e ideais.

De acordo com Ceccarelli (2010), nossas teorias são afetadas pelas mudanças contemporâneas. E, nesse sentido, a história demonstraria a necessidade humana de sempre – recorrendo a diversos recursos – lidar com suas próprias fragilidades e desamparos.

A patologia, a classificação desmedida – que, na realidade, está baseada em diversos interesses – fazem parte dessa história, e aliciam também toda a ideia exposta neste texto de que há e sempre houve níveis diferentes de patologização da vida ao longo do tempo.

Patologia, patologização da vida e normalidade: um retrato da atualidade

Como demonstrado acima, a humanidade sempre precisou de meios para balizar suas crenças e atenuar seus anseios. É algo que ainda faz e que provavelmente continuará fazendo ao longo do tempo.

A teoria que coube ser descrita para nos explicar essa realidade afirma a necessidade do ser humano em suprir a sensação de desamparo inerente a sua espécie, criando normas e teorias com as quais pode se identificar ou não, a depender de cada caso.

Com base nisso, afirma-se que as balizas atuais que cumprem essa função na saúde mental são, diversas vezes, utilizadas como formas de controle social, a medida em que patologizam comportamentos, excluem a subjetividade humana e promovem o surgimento de doenças mentais inexistentes.

Essas teorias são apresentadas e sentidas pelas pessoas como porta-vozes da verdade hoje, e como guardiãs de uma ordem simbólica absoluta, que idealiza uma forma única de subjetividade e funcionamento humano, como se tivessem o poder de deliberar sobre o normal e o patológico (Ceccarelli, 2010).

Se sabe que cada momento sócio histórico permite ao ser humano produzir sua subjetividade como algo sempre vinculado a sua cultura e aos anseios sociais do período sobre o qual se fala. Diante disso, a criação de estigmas e a manutenção de doenças não podem vigorar como elementos positivos.

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Atualmente, a imposição do discurso dominante – que hoje fomenta a patologização da vida e domina o ideário comum – nos tem feito abandonar, por exemplo – e esse é nosso principal argumento – o desejo de entender a identidade humana e suas expressões difíceis e complexas diante da vida.

Nossas ideias e concepções sobre saúde mental, a deflagração de sintomas, o apontamento de patologias e a validade de nossos comportamentos; todos estão estruturados de acordo com um modelo biopsicossocial – biologizante – que vigora em sociedade.

Nesse momento, convivemos com um aumento das patologias, diagnósticos mal feitos, profissionais desumanizados e um conhecimento hegemônico que desconhece o ser humano e suas experiências. Um caminho que não tem favorecido em nada a reflexão e a busca subjetiva do ser.

Ao termos em vigor tais ideias, a constituição do Eu ­– algo permanentemente vinculado a cultura e a sociedade – é ameaçada, na medida em que pessoas vivendo dificuldades psicológicas são frequentemente classificadas como doentes, tendo que viver sob esses diagnósticos, diversas vezes, para sempre.

Um exemplo claro e negativo do que vivemos encontra-se em diversos profissionais da saúde mental que não conhecem a importância em entender o que acontece nos contextos íntimo e social de cada pessoa, e que insistem em permanecer ao lado de teorias puramente biologizantes.

Ao sabermos da importância desses profissionais para a difusão de auxilio e consciência para todos os que necessitam, e apontarmos para o risco da aparente necessidade de classificação da vida, é que incitamos também essas reflexões e apontamentos.

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A repressão por meio da patologia tornou-se algo mais comum do que se poderia imaginar. Talvez por medo, talvez por intolerância e preconceito – talvez por interesses farmacêuticos. Independente disso, não é algo para o qual devemos fechar nossos olhos nunca.

Patologização da vida, DSM e indústria farmacêutica

Dentre as maiores fontes geradoras de controle psicossocial e de manutenção de patologias na atualidade, cabe ao conhecido manual DSM e a forma como a saúde mental tem sido tratada de acordo com suas diretrizes, um posto de destaque (Ceccarelli, 2010).

Nos últimos anos, críticas têm sido feitas ao manual, especialmente como forma de flagrar uma provável causa para a excessiva prescrição de medicamentos psiquiátricos no mundo, relacionada às indicações de seus conteúdos.

Nos anos 70, quando ainda começava a  se falar sobre a depressão, a busca de psiquiatras por causas neurológicas a dificuldades de natureza psicossocial aumentaria em proporções gigantescas.

A indústria farmacêutica investiria milhões no financiamento de pesquisas que comprovassem a funcionalidade de seus medicamentos; um modelo que não se alterou em mais de 40 anos.

Embora nenhum teste biológico permita diagnosticar a depressão e outros transtornos psicológicos, a indústria farmacêutica continua testando ao acaso diferentes substâncias que só aumentaram as descrições fenomenológicas (Ceccarelli, 2010) de patologias do seu interesse.

Tornou-se totalmente secundário se a causa desencadeadora seria a perda de um ente querido, de um ideal, ou um assédio moral, ao longo dos anos. O problema está nos genes ou na biologia do cérebro (Ceccarelli, 2010).

Fato curioso – tema desse artigo – diz respeito a prescrição elevada de medicamentos para fenômenos normais da vida, como mudanças no estado de espírito pessoal e a variação sentimental conforme o tempo e acontecimentos possíveis.

Ao passo em que condições próprias da natureza humana disputam seus sentidos com os interesses financeiros de grandes instituições, cada vez mais pessoas são afetadas pela patologização da vida e classificadas segundo transtornos e patologias.

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É assim que, aos poucos, as pessoas estão sendo convencidas de que qualquer problema, qualquer contrariedade é insuportável, o que transformou o sofrimento psíquico em uma doença mental, para a qual existe um medicamento apropriado para a emoção que o sujeito não deveria sentir (Ceccarelli, 2010).

Ao longo dos anos, com pouca justificação científica, inúmeras emoções e sentimentos passaram a fazer parte das desordens e patologias psiquiátricas e, logo, passíveis de serem tratados com psicotrópicos (Ceccarelli, 2010).

Em suma, aponta-se para a necessidade desmonte da ideia de diagnóstico como um negócio altamente rentável, financiado pelas maiores indústrias farmacêuticas, com o apoio do DSM, a conivência de Universidades e a cumplicidade da mídia ao redor do mundo.

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Nada disso se classifica como teoria da conspiração. Essa máquina existe e vem sendo desmascarada por diversos autores. Um bom exemplo está no escritor americano, Christopher Lane, autor da obra “Timidez: como o comportamento normal se tornou uma doença”.

A ideia de loucura e os movimentos de reforma psiquiátrica/manicomial

Durante um longo período de tempo, os manicômios – reprodutores de uma lógica que fragmentava a experiência humana e fomentava patologias e desigualdades – existiram como primeira alternativa de tratamento em saúde mental em diversos países do mundo.

Os movimentos de desinstitucionalização, observando e refutando a lógica manicomial, foram responsáveis pela construção de críticas contundentes a esses estabelecimentos, em favor de concepções que respeitassem os seres humanos e suas necessidades distintas.

De acordo com Foucault (1972 apud Goulart, 2017), em sua origem durante a era moderna, os manicômios – ora obras de religião, ora obras de ordem pública – passaram a existir como formas de vigiar e punir os considerados “loucos” perante a sociedade.

Michel Foucault

Segundo o autor, os loucos eram vistos como uma ameaça à condição social, dado que demasiadamente descontrolados para a ordem científica e considerados inaptos ao trabalho em uma sociedade industrial, existiriam como um perigo iminente (Goulart, 2017).

Passado alguns anos, então no início da era contemporânea, com o surgimento da psiquiatria – especialmente sob Phillipe Pinel –, a loucura assume um novo significado perante a sociedade e suas ramificações culturais, com novas implicações e conceitos a serem entendidos.

De acordo com a ideia de autores que constituíram os movimentos de desinstitucionalização nas últimas décadas – incluindo Foucault e Basaglia – a base biomédica surgida da psiquiatria teria sido responsável pela criação de uma lógica baseada no estigma à dita anormalidade.

Franco Basaglia

As instituições de saúde, por exemplo, passam a promover tratamentos mediante o objetivo de “curar patologias”, ocultando problemas políticos e sociais em questão, que incluiriam a crítica ao sistema social que integra as pessoas com transtornos mentais e as próprias instituições de saúde (Goulart, 2017).

Dentro dessa lógica, passa-se a objetivar a pessoa em sofrimento e construir entorno dela uma ou mais patologias; algo que, de acordo com as ideias de Franco Basaglia:

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Deveria ser visto como o resultado de um modelo de ciência que impôs a algumas pessoas o peso de viver com transtornos associados a uma alteração biológica, de certa forma indefinida, frente à qual pouco se pode fazer, a não ser aceitar docilmente sua diferença em relação à norma (1985 apud Goulart, 2017).

Em cooptação direta e indireta, entre o movimento da Psiquiatria Democrática Italiana – encabeçado por Basaglia – e o movimento Antipsiquiatria – encabeçado por Cooper, Szasz e Laing –, surgem alternativas práticas e intelectuais a então excessiva patologização e castração da vida humana.

Thomas Szasz

Propõe-se, em comum aos dois movimentos, uma transformação do objeto da psiquiatria, que ao invés da tradicional dicotomia saúde/doença, seria voltado para a concepção existência/sofrimento, indissociada das relações humanas desenvolvidas em sociedade e das dificuldades inerentes a vida (Goulart, 2017).

De um modo geral, a partir dessas correntes críticas mais radicais, a ênfase deixa de centrar-se na recuperação de um estado anterior e supostamente saudável do indivíduo, para colocar-se na produção de novas possibilidades de desenvolvimento individual, social e institucional na saúde mental (Goulart, 2017).

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A patologia em si passa a ser desconstruída ao passo em que o ser humano assume seu papel como protagonista da própria vida, seja no contato terapêutico com profissionais – de mentalidade renovada –, seja nos contextos e lugares em que vive e frequenta – ao mesmo tempo em que não se vê mais como um alguém sem direitos; um diagnóstico.

A patologia como configuração subjetiva e o diálogo como ferramenta de consciência e educação

Uma das conclusões a qual se pretende chegar por meio de tudo que vem sendo exposto no artigo de hoje diz respeito a ideia de que, para diversas pessoas, a configuração subjetiva de uma “patologia” se da conforme diferentes processos da vida.

A união entre situações de violência, situações traumáticas e perdas de natureza distinta com a falta de ferramentas psicossociais para lidar com a fragilidade causada por estes momentos e acontecimentos, influem diretamente na saúde mental das pessoas.

Nesse processo, a visão de que se está doente – vítima de uma patologia – e não passando por problemas naturais que impõem sentimentos difíceis de se lidar, passa a ser fonte criadora de baixa autoestima, medos, ansiedade, sensações de incapacidade generalizada e outras possíveis experiências.

A ideia que se expressa entorno da subjetividade individual busca demonstrar que a vida e suas nuances, moldáveis pelo homem em sua singularidade, existem e o influenciam; que uma dificuldade não precisa ter a ver com desequilíbrios neurológicos.

Dentre muitos casos, coincide que o momento em que a pessoa passa a se perceber enquanto “doente mental” se dá no mesmo momento em que, ao ser institucionalizada em algum serviço, seus sintomas acabam recebendo algum tipo de classificação técnica.

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Nesse momento, dada a carência de diálogos e explicações humanísticas que valorizem a vida, a opinião e as experiências dessa pessoa, normalmente ocorrerá a absorção pouco reflexiva de explicações sobre si mesma, baseadas nas definições do modelo vigente – no caso, do modelo psiquiátrico.

A assunção do lugar de “doente mental”, longe de promover posicionamentos e reflexões diferenciadas na vida do indivíduo, culminam na retificação de seu quadro psicopatológico, de modo a operar na contramão de suas possibilidades de ação (Goulart, 2017).

Nesse sentido, a pessoa passa a se ver como dependente absoluto do serviço e das prescrições técnicas dos especialistas, com destaque para a medicação. Criam-se, dessa maneira, muros invisíveis.

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Pensando nesses exemplos em relação às atividades de um CAPS, presume-se que atividades, por exemplo, que permitam a contribuição de todos e o uso de suas capacidades físicas e intelectuais, podem favorecer muito mais as pessoas em tratamento.

Tais estratégias representam alternativas à subjetividade social manicomial dominante em vários serviços, demandando o envolvimento subjetivo por parte dos profissionais envolvidos, ao invés do foco pouco virtuoso no controle dos sintomas de uma “patologia” (Goulart, 2017).

Em um contexto como esse, provocações reflexivas e diálogos tem seu espaço para surgir como processos subjetivos diferenciados, que, mediante o estabelecimento de um vínculo social, mobiliza os atores envolvidos, não anulando suas singularidades.

Dessa maneira, o desenvolvimento subjetivo e a desconstrução da patologia se cristalizam. Enfatiza-se a capacidade do ser humano em buscar seus próprios caminhos, de conquistar sua autonomia, ao passo que um apoio construtivo é construído e aprimorado.

“Nesse sentido, trata-se de um processo complexo que enfatiza a capacidade dos indivíduos e grupos sociais de se posicionarem ativamente em seus caminhos de vida, de modo a gerar novos recursos que permitam mudanças significativas no curso de suas experiências” (Goulart, 2017).


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13 Comentários


  1. Também gostei bastante do artigo. Acredito que espaços como este, nos possibilita ampliação da percepção do fenômeno sofrimento psíquico, bem como, contribui para refletirmos sobre preconceitos e estigma social ainda tão presente na sociedade.

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  2. Texto bastante rico, ótimo material para reflexão nos serviços abertos, CAPS.

    Responder

    1. Boa tarde, Eliana!

      Ficamos muito felizes em te ouvir, muito obrigado! Nós do CENAT trabalhamos para isso, levar reflexões e transformar a saúde mental em algo humanizado!

      Um grande abraço! E obrigado por estar com a gente!

      Responder

  3. Obrigada pelo texto tão esclarecedor e reflexivo. Estamos cada vez mais ansiosos por respostas e soluções rápidas que nos sujeitamos a diagnósticos e tratamentos mais e mais generalizados, não é mesmo? Quanto de nós não recorre ao “Tio Google” quando tem sintomas “depressivos”? Quanto de nós suporta alguma falta, dor? Colocamos a nossa subjetividade na mão do outro de graça, sem pensar o quanto ela é preciosa e nos constitui como sujeito e assim, seguimos carregando diagnósticos, rótulos, medicações e tudo mais…
    Talvez a minha colocação vá em outra direção, e peço desculpas, por desviar um pouco do caminho, mas entendendo a “patologização da vida” como um sistema, assim temos de um lado o profissional da saúde que atende se paciente de forma humana, levando em consideração sua subjetividade e o ambiente a qual ele pertence, por exemplo; temos de outro lado o paciente que faz essa escolha e muitas vezes tem a necessidade de ser “psicoeducado” para desenvolver as habilidades de ocupar esse lugar que o Sr cita. Recebo, no consultório, muitas pessoas, ávidas por respostas , diagnósticos e intolerantes para algo que não proponha um resultado imediato, como se psicoterapia fosse macarrão instantâneo. Isso me faz pensar o quanto, como profissionais de saúde mental, temos que trabalhar nossos vínculos terapêuticos nesse sentido, para que não reforcemos essa tendência, tão presente no nosso dia a dia, à busca de respostas rápidas, rotulações, diagnósticos, medicalizações, generalizações. E, enquanto cidadãos, seria interessante estarmos atentos: o quanto estamos fazendo nossas próprias escolhas para aquilo que é realmente importante para nós? O quanto estamos delegando ao(s) outro(s) nossa autonomia?
    Abraço fraterno,
    Laura

    Responder

    1. Bom dia, Laura! E muitíssimo obrigado pela sua colocação, muito pertinente!

      Essa é uma estrutura que abarca a sociedade como um todo. A lógica de consumo e soluções rápidas da tom a questões que envolvem a delegação da subjetividade, a má interpretação do que é subjetividade e a consequente patologização da vida.

      Muito obrigado por seu comentário. Nós do CENAT ficamos muito felizes em saber que pessoas como você, com essa forma de pensar, existem. Nosso objetivo é levar essa visão para o nosso país, um lugar que tanto necessita de cuidados humanitários. Um grande abraço!

      Responder

    1. Obrigada. Gostei muito do artigo! Ele enfatiza bem o fato de que, hoje, infelizmente, os indivíduos parecem não ter mais o direito de sofrer, e qualquer situação que o deixe triste é motivo para classificá-lo como depressivo. Esse é um problema que afeta a sociedade intimamente, visto que a condição humana, de um ser que vive em meio a altos e baixos, é marginalizada à medida em que ocorre a patologização da vida.

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